segunda-feira, 14 de fevereiro de 2005

um domingo bem diferente

tava eu por aqui pela internéte durante o dia de sábado e aparece-me por aqui o hugo... tamos uma beca na conversa e ele conta-me que vai ser baptizado no dia seguinte... "estilo grande festa com alto almoço e lagosta?" pergunto interessado "não" responde ele... "mas a tua família vai?", "iá", "tamãe quero!"...

e lá acabei por acordar às 0830 de domingo pra ir ver o grande momento de um grande amigo... saio no metro de alvalade e dirijo-me previsivelmente prá grande igreja, até que recebo um telefonema... do outro lado em vez do hugo ouço uma voz com estranho sotaque à terrinha, nem percebi quem era mas deu-me umas indicações...

depois de desligar revi a conversa na minha cabeça e aí é que percebi "aléquesse", "aía o aléquesse! tou lixado! vou ter de gramar cas teorias do gajo armado em senhor"... nota: o aléquesse é um antigo colega de secundário, é um tipo fixe, mas uma beca chato, se fosse estrunfe era o dos óculos... tinha tantos inimigos...

encontro-o, todo bem vestido de fatinho, logo a contrastar com o meu aspecto, que o meu irmão descreveu como "bandalho", não vou comentar deixando à imaginação do leitor... cumprimento-o e levo logo cas perguntas da praxe, "quéque fazes? já acabaste o curso?" mas era só pra dar a deixa...

porque cedo ele começou logo a falar dele, "eu fiz assim, fui práli, depois fiz isto" e como sou um bicho coscuvilheiro até nem achei aborrecido... às tantas ele diz "tu nunca cá vieste mas sente-te à vontade, ok?", "mau!" pensei... ele diz-me uma coisa destas antes de entrar numa missa, não pode ser boa coisa "ondé queu me vim meter?"...

subimos as escadas e dou com uma sala enorme cheia de gente em pé, olho pró palco e vejo um mafarrico a cantar acompanhado de alto coro, um écran gigante passava a letra da canção, estilo cáráóqué... o aléquesse levou-me lá pró sítio onde eles tavam, a família do hugo, duas avós, mãe, pai, irmã, a mãe dele acena-me e retribuo...

vira-se o aléquesse "já viste o hugo?", "não!", "está ali à frente, do lado esquerdo", "ah, iá!", "uou, o qué aquela franja?"... depois dei-me ao trabalho de prestar um pouco mais de atenção ao ambiente circundante... era mesmo estranho, no palco cantavam-se cenas do género "jesus é muita fixe e vou segui-lo até à conchichina, ele é o único decente e eu sou uma miséria"...

cá em baixo havia múltiplas reacções, havia os mais fanáticos com os braços no ar, deve ter qualquer coisa a ver com a maior receptividade das palmas das mãos às sinergias positivas, ainda hei-de fazer um trabalho de investigação sobre isso... havia tipos dolhos fechados, parados, melhora a absorção de ondas sonoras...

e havia o comum dos fanáticos de entoava a canção alegremente enquanto sabanava prós lados... eu por outro lado estava inerte, estupfacto, intrigado e pensativo, de mãos nos bolsos... às tantas o câmaraméne teve a triste ideia de me focar e apareci em destaque no écran gigante, "ena pá! olha eu... pareço um segurança... aía, mas tenho buéda estilo como segurança"...

o careca que tava a cantar entra "agora vamos conhecer-nos", "mau!" eu que já tinha concluído a fase de observação e estava agora na fase de pensar na morte da bezerra, acordei logo... "vamos ter com uma pessoa que não conhecemos e vamos dizer-lhe olá" ele mostra como se faz e cá em baixo começa-se tudo a remexer comás baratas quando se liga a luz... penso eu, que nunca presenciei...

eu continuo inerte à espera que alguma garina me tenha visto no écran gigante e aproveite a deixa pra vir falar comigo e dar-me umas beijocas... aparece lá um tipo, estende-me a mão "olá, eu sou o reinaldo!", "marco", "é um prazer estar aqui a celebrar esta oração contigo!", "mmm", qué cum tipo responde a uma coisa destas, mesmo? ainda bem que foi o único...

uns minutos e lá acabou finalmente a cantoria pra chegar "o pastor"... o pastor entra calmo, como o bom velhote qué conta umas histórias da vida dele pra passar moralismos e às tantas pergunta "então e quem é que tá aqui pela primeira vez?", "mau!" eu que já tinha voltado à morte da bezerra acordei de novo... e levanta-se a família toda do hugo...

"ah tanta gente" diz ele, "então os que tão aí à volta que lhes dêm as boas vindas", garinas?! ná! era bom demais... mas, apareceu lá um careca que tava ao meu lado a dar-me as boas vindas, também aquela igreja não tem gajas boas... até elas são inteligentes demais pra se deixar apanhar naquela máfia... o pastor continua o sermão...

e numa transmissão de moral ele diz "eu quando vou comprar um carro, vejo quantos cavalos tem, se tiver mais de 200 gosto muito, é uma grande sensação de poder carregar a fundo e ficar colado ao banco, mas não compro o carro só porque tem uma gaja boa deitada no cápou"... espera lá, ele disse, duzentos cavalos?

primeiro pergunto-me se a sensação de poder a quele se refere não será pecado... é que nestes ambientes é preciso ter cuidado, praticamente tudo é errado... acelerar a fundo já é mau, perigoso, irresponsável e desnecessário, ainda pra mais pra sentir pensamentos pecaminosos de poder... uma pessoa justa, que se sente bem consigo própria e serve ao pessoal lá de cima precisa de sentir "poder"? não está acima desses sentimentos?

mas isto nem é o pior... o pior é ele admitir aquilo em público... não o podemos acusar de mentir, e logo aí já subiu uns pontos na minha consideração, o público inteiro é que desceu violentamente... então o cota admite que lhe dão dinheiro pra ele poder comprar um carro com mais de duzentos cavalos, porque obviamente já exprimentou, e continuam a ir lá, semana após semana dar mais massa?

é que o carro mais barato com mais de duzentos cavalos que conheço é o mítico subárú impréza, cuja versão mais em conta, fica pra cima de 37400 euros... eu acho um preço um pouco elevado para pagar prálguém me tentar meter juízo na cabeça, por muito difícil quisso seja... mas sei lá eu o que leva aquelas pessoas àcordar tão cedo ao domingo...

o cota entra então por uma estucha de primeira, qualquer coisa sobre as portas do nosso corpo que são a cena pela qual nós fazemos as escolhas da nossa vida... só sei quele esteve a bombar um discurso muita chato durante quanta e cinco minutos, não contei, foi ele que disse no final... eu não adormeci porque as cadeiras eram desconfortáveis...

e finalmente chegámos à parte dos baptizados... entraram dois mafarricos pra dentro do tanque de doispordois queles tinham lá no palco, com cloro pelo joelho, e começaram a mergulhar o pessoal todo lá dentro... como disse o tio do hugo, aquilo era mais espectáculo do que cerimónia, mas melhor assim... o hugo tem o seu momento e aparece lá ao pé de nós todo trôpego...

"ei! tudo fixe? então sentes alguma diferença?" pergunto, "sinto, tenho os olhos cheios de cloro, não vejo nada!" responde ele... depois disso acabei por não ir a casa da minha namorada que tava lá sozinha, práceitar o convite do hugo pra ir almoçar a casa dele com o resto dos cépticos... ah! hugo, parabéns! e como disse o teu tio, "o importante é que tu tenhas gostado"...

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