domingo, 21 de março de 2010

o campeonato de karts: parte três

após a minha vitória no kip sentia-me algo invencível... estava convencido que na terceira prova ia ter o meu mais do que merecido lugar entre a elite da primeira divisão... a cena é que estava redondamente enganado! a minha demonstração de consistência, velocidade e astúcia, que me levaram a conquistar a segunda divisão, teoricamente apenas me garantiriam o último lugar da primeira... pois... a primeira divisão em peso, do primeiro ao último, em trinta minutos de corrida, deu mais uma volta inteirinha ao kip que eu!

cheguei a évora ainda antes da primeira divisão entrar na pista... o dia estava chôcho e a pista bastante molhada... encontrei um bom lugar para acompanhar a acção e tirar alguns apontamentos... assim que os primeiros karts passaram pela recta da meta fiquei todo arrepiado! a minha estreia num dos kartódromos mais históricos do país e ainda pra mais numa batalha à chuva, estava tudo pronto para uma manhã magnífica... ao vê-los a lutar para manter o kart na pista, a corrigir a trajectória três ou quatro vezes dentro da mesma curva, imaginei a minha vitória...

identifiquei as curvas mais complicadas, algumas trajectórias percorridas pelos karts da frente e também uma secção em subida que teoricamente me daria alguma vantagem pelo meu peso mínimo... o problema é que com o piso molhado aquilo torna-se um pouco n"a vingança dos badochas"... sentei-me no meu kart que parecia ter andado a cortar relva e falei com ele: "não vais cortar mais relva, vamos manter-nos na pista, eles não estão prontos, mesmo que sejamos um pouco mais lentos eles vão cometer erros, tu vais ganhar, eu vou ganhar!"...

o problema é que se até a estreia do lendário ayrton senna da silva em piso molhado foi desastrosa, imaginem o que dizer da minha... os treinos foram um martírio! não fazia mesmo ideia nenhuma da dificuldade que era manter o kart na pista naquelas condições... a única maneira de descrever uma curva minimamente rápido era soltar as rodas de trás, o que só conseguia bloqueando-as através do travão se tivesse velocidade para isso, ou carregando o acelerador se viesse mais lentinho... quando o travão e o acelerador têm muito pouca precisão, como é o caso dos karts, torna-se complicado concerteza que se torna complicado...

embora lento lá fui cumprindo a minha promessa ao kart... não cortei relva, passei por muitos que não estavam prontos e sentia-me numa crescente espiral de confiança e velocidade... eu sabia que a competição directa com os meus adversários, na corrida, acabaria por me transportar para a zona... e por isso, parado na recta da meta, na miserável décima terceira posição, mentalizava-me que um erro eufórico poderia estragar completamente a minha prova e consequentemente o meu divertimento...

o arranque foi mais do mesmo, saí disparado e passei logo a linha à minha frente... as primeiras curvas foram estranhamente certinhas, tendo em conta as condições da pista... os toques eram constantes, mas isso só aumentava a adrenalina! até que chegámos ao segundo gancho e foi o caos... bastou um perder o controlo para muitos se seguirem, a minha aproximação cautelosa permitiu-me fugir com relativa facilidade, embora bastante lento... estava na zona e as voltas seguintes permitiram-me ganhar algumas posições... e foi então que a pista começou a secar...

a chuva tinha parado já há algum tempo e o kart começou a responder às minhas mudanças de direcção... a corrida tornou-se monótona... até que apanhei um bacano mais lento e cometi o erro! ele entrou lentinho na curva e para o evitar travei a fundo e perdi o kart... isto sem saber se o estava a dobrar, o que seria o mais provável... devia ter-lhe mandado um bilhete pró espaço! perdi três posições, disse um chorrilho de asneiras, e mentalizei-me "vou apanhá-los todos!"... e fui! passei o resto da corrida a recuperar todas as posições que perdi...

o último só o apanhei na última volta, já com a pista em condições miseráveis visto que tinha começado a chover novamente... terminei a prova em oitavo com sentimentos contraditórios... tinha conseguido recuperar as posições todas o que era fixe, mas tinha cometido outro erro idiota, de ir com muita sede ao pote, como já é meu costume... ao olhar para os tempos por volta fico com a sensação que talvez se tivesse recomeçado a chover mais cedo ainda fazia um brilharete... na última volta ganhei entre 3 a 9 segundos aos sete adversários que terminaram à minha frente... eles não estavam prontos, mas eu também não!