admito que não cheguei ao kartódromo internacional da região oeste na melhor das disposições psicológicas... estava algo desconfiado porque me preparava para enfrentar os melhores do campeonato... tinha tido a incrível sorte de apanhar a pista seca em évora e isso tinha-me catapultado para a primeira divisão... ao fim de três provas ia finalmente poder testar as minhas capacidades ao mais alto nível, mas a ideia de lutar pelas últimas posições não era nada animadora...
o kartódromo é bonito, percebe-se a fama que tem... no meio do campo, com mais de mil metros de perímetro, enormes rectas e uns desníveis interessantes... eu estava determinado a provar que, apesar da sorte, merecia o meu lugar ali... tracei o meu objectivo mínimo... melhorar a minha travagem! aprendi que "mais importante do que quando começas a travar é quando paras de o fazer", e isso levou-me a concluir que a minha travagem é de facto muito mazinha...
todos estes belos planos foram por água abaixo quando eu meti o pé ao travão, na entrada para a primeira curva, e o kart... nada! após a primeira sequência de curvas, cheguei à recta e decidi-me a fazer o derradeiro teste... carreguei a fundo no pedal e... nada! fez assim um "brooobrooobrooo" meio afogado, perdeu alguma velocidade, mas no maior dos elogios, aquilo abrandou... um bocadinho! e foi então que achei que isso de travagens era bonito e tal, mas talvez prá próxima... comecei a concentrar-me nas trajectórias...
e foi nessa altura que a qualificação me começou a correr surpreendentemente bem... pensei que seria o mais lento na pista, mas muito longe disso... apesar de altamente pressionado por um adversário que seguia coladinho a mim, comecei a ultrapassar malta até que, como cereja em cima do bolo, apanhei o cota da mercedes grand prix! chamamos-lhe assim porque ele tem um fato prateado, a dizer "fia", comó do michael... tinha ficado em terceiro na minha primeira corrida no campera e era um adversário que me daria especial gozo de ultrapassar... e deu!
o que também me deu um enorme sorriso foi ser chamado para a grelha de partida na quinta posição... comecei a pensar que afinal a primeira liga não era assim tão impressionante como isso, e que até a vitória estaria ao meu alcance... arranquei disparado novamente, direitinho à terceira posição... ainda pressionei os dois primeiros, mas a prova é longa e achei melhor deixá-los enfrentar-se nas primeiras voltas e depois derrotar o vencedor... era um bom plano, mas fui ultrapassado pelo filho...
o filho é um bacano da minha idade, filho de um notável qualquer de qualquer uma das empresas, confiante, tem-se em muito boa conta e tem a mania que é especialista... bem mais experiente do que eu, mas também ligeiramente mais lento... e foi assim que acabei a enfrentá-lo, por vezes brutalmente, porque curva após curva observava o duo da frente a afastar-se... eventualmente fiz uma monumental travagem para o evitar, bloqueei as rodas e acabei por o perder... e foi assim que fui apanhado por um grupo mais atrás...
nesse grupo seguia o cota do capacete branco... ora o cota do capacete branco é um cota ainda jovem mas já com alguns cabelos brancos, velha raposa, que distribui fruta como numa corrida de turismos... lembro-me que ficou bem posicionado numa outra corrida do campera e a ideia de enfrentá-lo fez-me entrar na zona de novo... da primeira vez tentei disputar uma travagem com ele, e saí a perder... da segunda vez, meti-me por fora na entrada da curva e ele empurrou-me para as couves... literalmente...
e foi assim que fui apanhado por outro grupo com o qual fiquei a lutar até ao final abrupto da corrida... a tentar novamente disputar travagens e a sair sempre a perder... o kart cada vez travava pior e tinha menos aderência... acabei na décima posição, assinei o quinto melhor tempo, e fiquei quatro posições à frente do badocha do filho... o badocha do filho que é o cota que ficou em segundo na minha corrida do campera e melhor que isso, venceu a primeira liga à chuva em évora!
após isto tudo acabei a corrida algo desconsolado por ter cometido tantos erros... tenho a sensação que raramente atingi um estado ideal de concentração durante a corrida, mas também sei que mesmo que o tivesse feito, dificilmente a corrida teria tido o desfecho que pretendia... mais do que concentração ou consistência, o que me faltou foi experiência e mesmo o controlo motor do pé esquerdo, para dominar correctamente o pedal do travão... por outro lado, para estreia, e mesmo a décima posição acho-a algo brilhante...
lembro-me que em janeiro estava a um segundo de distância desta turma, e agora aqui estou, três meses e três provas depois, no despique com muitos deles e inclusive a vencê-los directamente numa pista que nunca tinha experimentado na vida... agora espero ansiosamente conseguir um dos vinte lugares para a grande final em palmela... porque aí podia continuar a minha aprendizagem e quem sabe... ganhar! uuuahahahahahahhah!
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